quarta-feira, 15 de abril de 2009

UMA AVALIAÇÃO E PROPOSIÇÕES PARA A GEOGRAFIA ESCOLAR (Programas, unidades e aulas para o Ensino Médio) Jaime Tadeu Oliva

Com plena autonomia programas, unidades e aulas é uma atividade intransferível. É o coração de suas funções, que suas atribuições intelectuais e condição profissional de formação superior obrigam. Responde (em termos éticos inclusive) necessariamente por essa atividade, ao aderir ás e adotar materiais diversos, o professor torna-se autor responsável. E isso é muito evidente, essa situação de autonomia não se realiza. O professor tem sua autonomia violada com frequência, inclusive por ele próprio.
A ideia é que a Geografia Escolar e seus praticantes reproduzem apenas, em suas práticas não há atos de criação. Os costumes, as práticas e os preconceitos não são facilmente erodidos pela realidade, e terminam eles sendo a realidade.
O que é a Geografia Escolar e quais são os atores que a constroem?
A Geografia Escolar no período de domínio do modelo clássico era relativamente homogenea, uni autoral, e pode ser sintetizada como um vasto inventário da superfície terrestre, cuja a abordagem era uma somatória de recortes, definidos conforme uma regionalização em escalas. Configurava o chamado quadro natural, concebida para criar uma representação partilhada do território. A autonomia do professor não contava.
Atualmente, se mantém, camuflada é certo. Não parece muito fácil situar-se e posicionar-se, o que é condição insubstituível para construir a autonomia do professor. É muito diferente um professor que refletiu, trabalhou e criou o seu curso em comparação com outro que apenas aplica irrefletidamente algo de outrem. A disciplina esta em transformação tanto no plano acadêmico quanto na sua versão escolar.
O quadro de padronização nem existe, a padronização do "que deve" ser ensinado a massacra.
A construção do programa de curso: um passo para a autonomia
Resgatar ou construir de fato a autonomia dos professores na prática e na criação da Geografia escolar pressupõe o controle autoral sobre os programas de curso.
O foco agora é o estudante, onde se é esquecido que o professor é o criador de facilidades, o arquiteto de cenários e situações estimulantes. Paulo Freire já dizia que a Educação Escolar "é mais uma ato de construção de conhecimentos do que é a simples informações". Com o tempo a Geografia Tradicional passou a ser identificada não somente com os conteúdos e as abordagens da Geografia Clássica, mas também como aquela que é praticada por meio de aulas expositivas. Os objetivos agora são: promover a reflexão sobre a espacialidade que constitui as sociedades; pensar sobre o quanto o espaço é importante na definição das relações sociais de todos os tipos.
A geografia escolar Clássica é um inventário regionalizado selecionado. Já a Geografia Escolar Renovada não cabe apenas num único modelo. Seja qual for o modelo, sempre é nítida a diferença com a Clássica. A Renovada vai além e trata das relações entre os lugares, trata do espaço geográfico e considera processos de várias escalas na construção dos espaços: reflete sobre o que significa esse espaço de ordenamento social. Pode, no limite, admitir que o modo como as sociedades fabricam seus espaços, é, em parte, o modo como as próprias sociedades são construídas.
Os programas derivados das correntes de renovação, ingressam nas realidades geográficas por meio de temas diversos.
As três dimensões de um programa/ de um curso
Um programa de curso de Geografia Escolar é um projeto completo de aprendizado que se pretende aplicar. Objetivos, associados ao saber geográfico, que se quer alcançar, devem ser conscientemente estabelecidos. Portanto, são necessários argumentos que o justifiquem como objeto na construção do saber geográfico.
1. Descrição
Altamente estigmatizada no interior da Geografia, a questão da descrição na Geografia Clássica mostrou-se um problema para o patrimônio epistemológico da Geografia não por ser descrição, mas por ser uma descrição limitada.
Em tese, os termos descrever e observar possuem significados próximos. À vantagem é que a palavra descrição possui, implica numa ação construtiva de quem descreve, enquanto a observação indica uma postura menos ativa.
Descrever é uma olhar direto às realidades, buscando suas manifestações em si, mas também as representações e versões existentes sobre elas. O conhecimento se empobrece quanto mais fechado torna-se.
* Aplicar o momento descritivo na elaboração de um programa, de suas unidades e das aulas práticas pedagógicas obriga que se apresente a realidade com o mínimo possível de mediações ao estudante. Sem juízo de valor, sem relações desnecessárias.
2. Explicação
momento em que alguns aspectos da realidade geográfica descrita serão decifrados pela lógica da "causa e efeito". Aplicar explicações sobre realidades descritas nos mostra que muito de nossas descrições já contém explicações anteriores especializadas em formulações terréticas.
A explicação busca o mecanismo, o funcionamento dos fenômenos pré-estabelecidos de maneira precisa, tal como orienta o sistema analítico, que constitui o denominado paradigma da simplicidade, da objetividade.
Ao elaborar programas de Geografia, unidades dos programas e as aulas propriamente, é preciso identificar a dimensão explicativa pertinente se o tema em pauta comportar,aliás, sempre comporta algo, mesmo que parcialmente.
3. Compreensão
É investir no entendimento da s relações complexas cujo os resultados não são necessariamente regulares, não são leis. em Geografia, nesse processo compreensivo, pode se dar uma contribuição para desvendar a relação complexa a partir da espacialidade dos fenômenos, que , no entanto é apenas uma das dimensões do real, se inscrevendo no paradigma da complexidade.
E se consegue praticando a compreensão, virtualmente se "colocando no lugar" dos sujeitos observados. Pensar com o pensamento do outro, o compreender nos torna cúmplices de nosso objeto de estudo.

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